quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Questão de concepção



De 1998 a 2007, a rejeição ao aborto cresceu dez pontos percentuais:
estudiosos atribuem ao acirramento do debate
e à popularização das ultra-sonografias.





Como já vimos os números apresentados em 2007 mostram uma tolerância maior das famílias a possíveis relacionamentos inter-raciais e homossexuais por parte de seus filhos, estes mesmos entrevistados descrevem um movimento inverso em questões comportamentais de outra natureza, sejam as regidas por implicações legais – consumo de drogas, pequenos furtos ou participação em gangues -, sejam as movidas por forte conteúdo religioso, como o aborto, tema cujos índices de aprovação/rejeição costumam subir e descer nas pesquisas.
40%
dos óbitos maternos provocados por aborto são mascarados como infecções, hemorragias ou por “causa mal definida”. A interruoção da gravidez não desejada desponta com uma variação mais significativa, com um salto de 61% para 71% na taxa de rejeição. Ao analisar o que os entrevistados consideram moralmente certo ou errado, 87% condenam a interrupção da gravidez.
A antropóloga Débora Diniz, argumenta que em pesquisas de opinião sobre assuntos de ordem moral, as respostas tendem para “um julgamento moral compartilhado, que não necessariamente representam praticas individuais”. Ser racista ou homófobo é algo cada vez menos aceito socialmente, já o aborto tem sido tema de debates acirrados.
De acordo com a antropóloga Maria Luiza Heilborn, a ponta com outro fator responsável pelo crescimento da rejeição: a ultra-sonografia. Uma vez que ao mostrarem uma imagem assemelhada à imagem humana, as novas tecnologias de visualização do feto fizeram uma mudança muito grande no imaginário social. Uma coisa que oculta passou a ser visível, e com isso após verem o feto, muitas mulheres deixam de cogitar o aborto. “Quando pensam em abortar, é porque elas não deram ao feto o status de pessoa. Após o exame, não estão esperando mais uma criança, mas a ‘Verônica’, o ‘Fernando’”.
Meninas de até 15 anos aparecem com maior peso nos números de mortalidade – respondem por 14% dos óbitos por aborto. Destaca-se também a escolaridade e a renda como fatores que alteram as opiniões sobre a pratica do aborto. A resposta “moralmente errado” foi dada por 90% dos que têm ou cursam ensino fundamental e por 77% dos de ensino superior. Agora, quanto à renda mensal, a diferença foi de 87% (até 10 salários mínimos) a 69% (mais de 20).
Confrontados com a pergunta de que atitude tomariam caso uma filha adolescente engravidasse, 82% responderam que forneceriam apoio para que ela tivesse o filho em qualquer situação. Mas quando a pergunta muda de gênero e se refere a um filho que engravidasse uma garota, o índice dos que apoiariam o nascimento em qualquer situação cai para 71%. A pesquisa também declara que menos de 1% dos pais ouvidos aconselham o aborto, e cerca de 15% dos pais entrevistados teriam como reação, pressionar a filha a se casar.

A família arruma a cama

Virgindade, gravidez solteira, homossexualidade,
sexo no namoro ou na casa dos pais revlam que
os brasileiros estão mais tolerantes.

Está longe de ser um “liberou geral”. Mas de 1998 a 2007 mudou bastante coisa nas atitudes dos brasileiros com relação à sexualidade, `a moral e à família.
A pesquisa do Datafolha realizada este ano constatou um drastica mudança em relação a dez anos atrás. Constatamos que houve uma diminuição no que diz respeito a rejeição ao homosexualismo, porém a rejeição ao aborto aumenta.
“Se você soubesse que seu filho está namorando um homem, você consideraria um problema muito grave, mais ou menos grave, pouco grave ou não consideraria um problema?”
Em 1998, 77% dos entrevistados achavem que a situação seria “muito grave”. O ndice 20 pontos percentuais em nove anos: hoje, só 57% teriam essa reação. Caso, o “problema” ocorresse com a filha, os niveis de tolerância não se aterariam significadamente: 55% dos entrevistados não achariam “muito grave” se ela namorasse outra garota.
Em pesquisa realizada em 2002, mostra que 89% da população afirma ser “totalmente contra” ou “um pouco contra” sexo entre dois homens. Agora, ao focalizar o aborto, contataram que apenas 3% da população consideram “moralmente aceitável” fazer um aborto contra 87% que acham isso “moralmente errado”, e 6% que, estranhamente, afrimam não ser essa “uma questão moral”.
Os maiores sinais de liberalização e modernidade talvez apareçam, na verdade, quando determinadas “qustões” simplismente deixam de ser... “quetões”. De 1998 a 2007, subiu de 76% para incriveis 92% o índice de intrevistados que não considerariam um problema se o filho namorasse uma pessoa de outra cor. Agora, com a filha,a toada mudificasse um pouco: o índice baixa para 85%.
Durante os anos 60, ouvia-se familiares mais velhos reclamando quando grávidas usavam biquíni; divórcio, ou “desquite”, que era o que havia na época, surgia indubitavelmente como um acontecimento raro e de considerável gravidade, agora o assunto foi vencido pela modernidade.


Lugar de mulher é em casa

No país, onde segundo o IBGE 29.2% dos lares são chefiados por mulheres, 33% dos entrevistados pelo Datafolha afirmam que as mulheres devem deixar de trabalhar fora de casa e ficar em casa cuidadando dos filhos. Na segmentação por sexo, a resposta foi dada por 36% dos homens e 30% das mulheres ouvidas.
Outros 49% dos brasileiros aceitam que a mulher trabalhe, desde que o salário dela seja realmente necessário para o orçamento familiar. O índice dos que defendem que a mulher deve abrir mão do trabalho pelos seus filhos é menor entre os que cursaram o ensino superior: 19%. Isso é um dado alarmante, podemos então considerar que a melhoria das condições de vida das mulheres na sociedade não depende openas da evolução do nível educacional da população, para que haja essa mudança é necesserio que ocorra uma mudança da atuação do Estado no setor.
Enquanto as mulheres tiverm que redobrar para conciliar sua atividade remunerada e a maternidade, dificilimente poderam concorrer em pé de iqualdade com os homens no mercado de trabalho.

Reportagem adptada da Revista Família Brasileira do Jornal Folha de São Paulo.

domingo, 28 de outubro de 2007

Sexo na adolescência

O sexo na adolescência

Uma ampla pesquisa sobre asexualidade dos jovens mostraque dois em cada três descobrem o sexo até os 16 anos e que transar com o primo é coisa do passado
Por Célia Chaim, Eliane Lobatoe Hugo Marques


As meninas muitas vezes ainda brincam com suas bonecas. Os meninos custam a deixar os jogos eletrônicos que os levam a ficar grudados por horas a fio no computador. Mas o mundo desses adolescentes se resume apenas a essas amenidades? Definitivamente não. E as provas desta tese são os resultados de uma pesquisa inédita, a maior sobre a sexualidade dos jovens brasileiros já feita no País, chamada Juventude, juventudes: o que une e o que separa. O estudo de fôlego foi realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, a Unesco, com a coordenação das sociólogas Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro. ISTOÉ teve acesso com exclusividade às 470 páginas do trabalho. Os pesquisadores ouviram dez mil adolescentes em todos os Estados do País e chegaram a revelações importantes. Uma delas: 66,5% desses jovens, ou seja, dois em cada três, têm a primeira relação sexual até os 16 anos. Em números, são 25,3 milhões de pessoas. Outra: 16,1% dos entrevistados disseram que a primeira vez aconteceu até os 13 anos, ou seja, 6,1 milhões de pessoas.

Tiago Vargas descobriu os prazeres sexuais aos 14 anos, com uma amiga da escola. Hoje, cinco anos mais velho, já perdeu as contas: “Foram de 30 a 40 mulheres só nos últimos 12 meses”, diz. “Muitas vezes é com desconhecidas.” Morador da área nobre de Brasília, olhos verdes, ele acha que tem todo o conhecimento necessário para se proteger e evitar doenças. Às vezes, embalado pelo álcool, admite que deixa de lado a camisinha e corre risco. Excluindo o grande número de parceiras sexuais, o perfil da iniciação sexual de Tiago é um resumo do modelo experimentado por quase todos os brasileiros de sua geração.


A socióloga Miriam Abramovay explica que o levantamento é um dos retratosmais claros que se tem até hoje dos filhos da internet, a geração que cresceuna era da globalização. “Fiquei impressionada. Eles estão com a sexualidadea toda prova”, diz Miriam. “E começam a atividade sexual cada vez mais cedo.”A iniciação sexual é mais precoce nas camadas mais pobres. Nas classes D eE, 16,8% deles se iniciam com apenas 13 anos. Nas faixas menos favorecidasestão 26,7 milhões com menos de 18 anos. Entre os seis milhões dos setoresmais ricos do Pais, as classes A e B, o índice cai para 13,9%. Na classe C, com15,1 milhões de jovens e adolescentes, a taxa é de 15,7%. A amostragem da pesquisa se refere a todos os 47,8 milhões de jovens das regiões metropolitanas, periferias, interiores e áreas rurais.

Embora aconteça cedo, e apesar dos descuidos, os adolescentes estão muitobem informados. Na maioria dos casos, sabem, no mínimo, o que têm de usar e fazer para transar. Na avaliação da pesquisadora Miriam, é preciso entender o vocabulário dessa juventude para produzir uma orientação com resultados mais efetivos. Quando eles falam em “ficar”, geralmente a coisa não passa deuma simples troca de beijos, abraços e carinhos. Namorar é outra história: não raramente inclui sexo com o namorado ou o amigo. Tudo leva a concluir que o“mito do primo”, a descoberta das sensações de prazer com o parente mais próximo, nas temporadas em que ficam juntos, é algo que a nova geração enterrou de vez. De certo ponto, isso é positivo. “O baixo número de relações sexuais com parentes que apuramos, um número bem menor do que as mantidas com desconhecidos e até profissionais de programa, derruba o mito do elevado número de relações entre primos”, confirma a socióloga.


Outro ponto interessante é que a violência e a Aids levaram os mais novos a se agregar mais. Por isso, o estudo descobriu uma alta taxa de sexo com os amigos e um índice considerável de relatos de fidelidade ao namorado. ISTOÉ ouviu três garotas em Brasília. Todas disseram ter “ficado” com garotos várias vezes sem fazer sexo. A estudante Gabriela Monteiro, 14 anos, é uma delas. “Ficou” algumas vezes e teve cinco namorados. “Só vou transar quando eu sentir amor pela pessoa”, diz Gabriela. “Acho que eu nunca amei ninguém.” Ela estuda no primeiro ano do segundo grau e acha que já tem todas as informações necessárias para se proteger.
O carioca Garp Esteves Bruno, 17 anos, que já teve várias namoradas, não é tão romântico quanto Gabriela. Atualmente só, explica: “Garotas tem um monte. Mas as bacanas, as legais, estão difíceis. Hoje, comigo é só rolo.” Menina legal, para ele, é aquela que tem “algo mais”, com quem “o papo acontece.” Sua primeira vez foi há dois anos, “com uma namoradinha”. Depois de muitos beijinhos e carícias, eles foram para a casa de um primo dela “e rolou.” Garp não acha que foi tarde: “Aconteceu na hora que tinha de ser. Sei que tem gente que tem a primeira experiência mais cedo, até com dez anos. Mas cada um tem sua hora, não existe padrão nisso.”

Há pelo menos uma explicação convincente para a descoberta cada vez mais rápida dos prazeres do sexo. “A realidade se altera rapidamente com o bombardeio dos veículos de comunicação. Se por um lado sobra informação, o que leva a um conhecimento precoce sobre sexo, por outro ela nem sempre é bem compreendida, o que leva a dúvidas sobre prevenção de doenças e gravidez”, constata a ginecologista e sexóloga Maria Maldonado, da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro. Ela explica que, quanto menos informação as pessoas têm, mais vulneráveis estão em relação a questões de saúde reprodutiva, como gravidez não desejada, uso de métodos contraceptivos e contaminação pelo vírus da Aids. O melhor caminho, atestam esses estudiosos, não é tentar retardar a iniciação sexual dos garotos à força e a todo custo, mas fazê-los exercer a sexualidade com responsabilidade.


Aos 17 anos, Felipe Izing sente que o mundo está em suas mãos. Nascido em Itapema, Santa Catarina, ele está morando no Rio de Janeiro para exercer duas das mais badaladas profissões do momento: modelo, que ele já é, e ator. “Vou começar um curso de teatro brevemente”, afirma o surfista de 1,82 m e ares de galã. Acostumado ao assédio feminino desde muito novo, Felipe diz que teve sua primeira experiência sexual aos 13 anos com uma “guria” dois anos mais velha. A fila andou e ele teve um namoro “longo” – de um ano e meio –, e alguns relacionamentos rápidos. Hoje, namora há três meses uma carioca dez anos mais velha. Felipe foi emancipado pelos pais, Marilene e José Otto Izing, para que possa viver sozinho e trabalhar no Rio. Antes, porém, recebeu todas as orientações necessárias para levar uma vida sexual saudável. “Camisinha sempre!”, resume. “Meus pais conversaram muito comigo e com meu irmão mais velho sobre isso.” No livro Fala sério, as médicas Evelyn Eisenstein (pediatra) e Andrea Teixeira Matheus (psicóloga) explicam que “não existe idade certa para deixar de ser virgem”. Para elas, é o desejo que estabelece o momento – desejo que, para nosso honesto personagem Felipe, surge diante de uma garota bonita com uma conversa interessante. “Algumas vezes, vale a pena investir, mas há garotas que só querem aquele único encontro, não estão a fim de namoro, não.”

Alguns pais explicam, outros exigem um exercício de autoridade nem sempre aceito e aprovado. Thaina Levy, que acabou de fazer 18 anos, ficou com alguns amigosum pouco mais velhos, mas nada ultrapassou a barreirado “ficar”. Rodrigo Fleury, estudante de moda, foi um deles. Ele é o que se chamaria de “livre, leve e solto”.Ele conta que sua vida sexual começou aos 16 anos. Parece bem distante de assumir algum namoro maissério. Para a socióloga Mary Garcia Castro, outra coordenadora da pesquisa da Unesco, não é somente a idade da iniciação sexual que surpreende. “As meninas estão começando também cada vez mais cedo”, diz. “O que se conserva em todas as faixas de idade, principalmente entre as garotas, é que eles se entregam principalmente quando há amor.”

O tempo voou na questão da mudança de comportamento em relação ao sexo. Dez anos atrás, era praticamente inadmissível pensar que namoradas e namorados adolescentes poderiam passar a noite juntos na casa dos pais. “Até mesmo em função da violência que corre solta, é melhor deixá-los passar a noite juntos e por perto”, completa a psicanalista Renata Galvão. Por sinal, a pesquisa da Unesco mostra que 20,7% dos pais brasileiros, ou um a cada cinco, possuem opinião semelhante à de Renata. No outro extremo da linha de definição de comportamentos, 60,3% proíbem os filhos adolescentes de chegarem tarde em casa. “A família brasileira é controladora, no bom sentido”, diz a socióloga Miriam. Mas, empurrada pelos fatos, está mudando numa velocidade bem maior do que acharia confortável.
Revista Istoé